A Evolução no Setor Industrial

No modelo baseado em três setores, o desenvolvimento econômico obedece a uma seqüência natural em três tempos.



A agricultura, a princípio, era o setor predominante em volume de produção e transação comerciais. Em seguida, veio o setor industrial, ou secundário, que se desenvolveu rapidamente visando substanciais melhorias da produtividade que provêm essencialmente das economias de escala, que levaram, conseqüentemente, ao desenvolvimento do setor de serviços, ou terciário.



Este último setor amplia-se tão rapidamente e permeia o segundo gerando conflitos de definição sobre o que pertence a um e ao outro. Historicamente, sempre houve um certo desprezo ao setor de serviços, por várias razões, uma delas, devido à associação com o servilismo, sendo esta a percepção tanto entre partidários de Adam Smith, quanto de Karl Marx.



Entretanto, esses conceitos estão ultrapassados, pois a parte relativa à manufatura vai continuar decrescendo, tanto em números de emprego quanto no PIB, nos países desenvolvidos, em razão dos ganhos de produtividade, da automatização e da transferência para países com mão-de-obra barata.



O desenvolvimento dos serviços, até hoje, compensou o declínio do emprego industrial. Hoje em dia as empresas industriais evoluem em mercados cada vez mais competitivos e não têm outra escolha a não ser diminuir custos. Assim são obrigadas ora a automatizar a sua produção, ora a transferi-la para países em desenvolvimento. O setor de serviços é muito vasto e mal definido para se prestar aos estudos.



As empresas sempre consumiram serviços prestados por outras empresas, tais como distribuição, financiamento e seguro. Ao longo dos últimos anos, no entanto, a demanda de serviços destinados aos produtos intermediários cresceu consideravelmente, quando essas empresas começaram a terceirizar as tarefas que antes eram efetuadas internamente, como a informática, a consultoria jurídica, a publicidade, o projeto, a pesquisa, a limpeza, a segurança, etc.



Os empregados, sendo terceirizados desta forma, representam uma transferência dos postos de trabalho industriais para os empregos em serviços. Promover a distinção entre indústrias e serviços é pouco pertinente, pois esses dois setores evoluem em simbiose: os serviços não podem prosperar na ausência de um setor industrial poderoso e a indústria depende dos serviços.



À medida que os processos de produção vão se tornando cada vez mais complexos e competitivos, a indústria deve contar com uma maior contribuição dos serviços, como forma de agregar valor. Do mesmo modo, os serviços fundados no tratamento e na troca de informações são bastante dependentes da infra-estrutura das telecomunicações, o que faz com que, inevitavelmente, a distinção entre indústrias e serviços se torne artificial. A indústria, na sua essência, promove a transformação de matérias-primas em produtos acabados.



Qualquer outra atividade, como o tratamento da informação ou a gestão do conhecimento, é considerada serviço. E, a partir desta definição, a maioria daqueles que trabalham na indústria, particularmente os especialistas em sistemas de informações, os que concebem os produtos, os engenheiros de produção ou os contadores pertenceriam ao setor de serviços. No cenário atual, a indústria deve compreender o tratamento da informação assim como o tratamento das matérias-primas.



A informação é, unicamente, uma matéria-prima com características particulares. Neste contexto, estão organizadas diversas categorias, vinculadas às Federações das Indústrias, como os setores da informática, da reparação e manutenção de máquinas, aparelhos e equipamentos elétricos e eletrônicos, de veículos, etc. A verdade é que estamos todos nos serviços hoje em dia e no futuro estaremos bem mais. Uma evolução tão clara exige uma nova definição que permita compreender melhor e enxergar, com mais nitidez, a amplitude do setor industrial, que hoje não apenas transforma matéria-prima, mas também informação.



A evolução tecnológica promoveu o desenvolvimento industrial e, no seu bojo, o próprio conceito de indústria, que se sofisticou a ponto de deixar de realizar uma mera produção de escala, sem diferenciação, para uma produção com escala ou não, mas com individualização, ou seja, com detalhes feitos especialmente para alguém, sob medida.



Apesar de alguns setores conseguirem um grau de individualização maior que outros, a orientação do mercado é para, cada vez mais, aumentar essa individualização, na busca incessante de se agregar valor ao produto. E, é esta geração de valor que mescla a manufatura tradicional com a prestação de serviços formando, portanto, a nova indústria.



*Ricardo de Figueiredo Caldas é Engenheiro e Mestre em Engenharia Elétrica pela UnB e presidente da Telemikro - fornecedora de soluções estratégicas para gestão de conteúdo corporativo.

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